Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

sábado, 10 de maio de 2014

A Última Quimera, de Ana Miranda

O livro é escrito por essa moça aí, e ela escreve no Caros Amigos, que uma menina me garantiu que era um bom jornal — e eu, como bom idiota, não fui ver. Ele conta a história de Augusto dos Anjos, uma poeta nosso. Resolvi não ler nada dele para manter-me apenas no que o livro passa. 

Augusto dos Anjos teve uma história complicada. Misturou cientificismo com a poesia, falava de morte, lançou um livro que só foi realmente reconhecido após sua morte. Um homem que temia tornar-se cego, colocava um pano sobre os olhos e treinava em casa. 

Creio que é nisso que a autora acerta: nas pequena histórias. O livro, com suas miríades de capítulos, tem espaço reservado para cada história, cada momento, cada descrição. Uma frase de Augusto aqui e lá ("a mão que afaga é a mesma que apedreja"), pinceladas de como era o Rio de Janeiro em 1914, algumas revoltas políticas, outros poetas. 

Histórias: como a do misantropo, o tio de Augusto, que entrou em seu quarto e não saía para nada, só para comer. Olavo Bilac, que disse que morreria assim que um relógio parasse, e assim foi. Há uma crítica às escolas literárias — alguém faz algo bom, outros se perdem na essência, acabamos no medíocre. O trecho que compara o Parnasianismo com o Simbolismo é, anh, brilhante. 

E, além disso, uma das melhores descrições de sexo da história: 

"Perguntei-lhe se sabia o que era copular. A imagem que ele tinha de um homem copulando com uma mulher era assim: uma contorção neurótica de um bicho misturada à ferocidade de uma horda de cães famintos que é o homem, devorando um ser ilusório feito de mistério e luz, que é a mulher."

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