Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O décimo-segundo dia de treinamento foi aquele no qual eu aprendia a usar o fogo. Não como uma pessoa normal, um mero humano; meu mestre, um mago, me ensinaria a retirar o elemento do nada.

"A primeira coisa que tem que saber é que não é simples" ele disse, "Já sentiu febre, rapaz? Pois nas primeiras vezes — e eu quero dizer alguns anos de bolas de fogo e explosões — vai sentir febre, e vai ser pior conforme aquilo que tente fazer. Seu coração vai bater mais rápido. Sua mão vai formigar, sua boca vai secar".

Hoje, vinte anos, ainda é o mesmo. Eu fecho os olhos, eles começam a arder, e meu corpo se aquece. As palavras do encantamento são ritmadas pelo meu batimento cardíaco, e é por isso que são ditas tão rápido. Começo a respirar com dificuldade alguns segundos depois, a sede aumenta gradativamente. Suor. E isso tudo no decorrer de vinte e oito segundos. Tempo para que eu faça o Éter a minha volta ser menos irreal — tornar-se meu combustível e meu meio — eu me lanço virtualmente por ele, e reajo com o ar.

O fogo é criado naturalmente. "Tem que fazer parecer fácil, para que todos que tentem o mesmo, não consigam. O caminho das pedras só é seguido pelos fortes; e, principalmente, descoberto pelos espertos".

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O que o atingiu foi uma espécie de recipiente feito de vidro, só um pouco acima da cintura. O vidro brilhava vermelho, rubro como nenhuma fonte de luz próxima poderia fazê-lo reluzir. Atingiu o homem e o jogou contra a parece com força análoga a de um carro. Enquanto os pedaços da parede rachavam, se partiam e desmoronavam, o brilho retrocedeu no recipiente e — centímetro a centímetro, esse movimento o fez explodir em centenas de pedaços. 

O homem, num smoking, caiu no chão após três segundos — e havia um buraco na vestimenta, onde ele tinha sido golpeado. Sangrava. Gemendo, levantou-se com esforço. Um outro homem no lado oposto sorria. Não era felicidade que havia em seu rosto. Era cinismo. Um dos braços permanecia estendido, uma mão ainda aperta. 

O brilho no vidro movera-se, energético, rasgara o chão em duas retas paralelas e entrara no corpo do homem. 

"Posso energizar esse tipo de coisa. Não quebram até que tenham servido aos meus objetivos...", ele exclamou, "O efeito é muito melhor quando se usa coisas maiores. Isso foi só uma amostra."
"Não vai...", bradou o outro, tremendo, com a mão sobre os ferimentos, "Me vencer assim tão fácil!". Os olhos. Foi algo imperceptível. De castanho ao azul. Adrenalina. O coração do homem disparou. Tremia agora pelo distúrbio nervoso. Suas mãos começaram a se aquecer. 

"Pensa que isso pode me derrotar?". Cinismo. Abaixou a mão, juntou o indicador e o médio, levou-os até a boca. Como um beijo, mas não era um beijo. Uma espécie de catalizador. Os dedos se moveram conforme os lábios se abriram e fecharam. 

Silêncio. 

Foi como se tudo parasse no organismo dele. O calor. A velocidade. O tremor. A dor. Toda e qualquer vontade, a santa vontade necessária para fazer as coisas mudarem no Éter. Sua boca secava, suava frio e não conseguia falar. Não faria magia tão cedo. 

Concluiu que estava morto.