Observei alguns sites que tratavam do livro para me basear nessa resenha, e eles só tratavam da história, faziam um resumo e diziam que era atual. Só. Se há alguém que discorde, manifeste-se agora ou cale-se até ter argumentos melhores: a história do livro é quase dispensável. O enredo não é nada revolucionário, o que mais contou ali foi a essência. As entrelinhas.
A história de Capitães de Areia é a história de alguns membros de um grande grupo de menores abandonados, que roubava e roubava no Rio de Janeiro. Aliás, o Rio de Janeiro continua lindo; a história de cada um, envolvida com a dos outros, nos tempos em que pessoas de quinze anos ainda eram crianças e não sabiam nada sobre sexo.
Resumida em alguns personagens está lá a sociedade que ignora sistematicamente a situação dos menores, acreditando que são ladrões e isso é tudo. A Igreja que prefere dar mais atenção às madames que dão o dinheiro após a missa. O jornal que coloca peixes grandes em primeiras páginas e sardinhas lá pelo meio, escondido, sem atrativo; quem é que precisa saber da verdade?
Todo o glamour dos boêmios e malandros, que vivem à custa de mulher-meretriz e arrumam brigas. O Brasil é aquilo ali. Houve epidemia: houve o lugar onde os pobres doentes iam e todos sabiam que não haveria volta. Houve os socialistas ou coisa semelhante, usando o podre do sistema para brincar de soldado com o sistema.
A prisão de um deles, os maus-tratos na onde foi levado. E para quê qualquer um iria querer ser levado pra lá? Jorge Amado diz e diz de novo que tudo o que crescia naquelas crianças era ódio. De nunca ter tido o que poderiam ter — o que o mundo me pede não é o que mundo me dá — de não ser tão grandes como talvez pudessem ser.
Tudo bem, podem falar que é demagogia, eu sou mesmo um médio-burguês abastado que reclama das coisas que não pode mudar. Mas que é verdade é. As pessoas tão lá matando no Rio? E você queria que fizessem o que? As pessoas tão matando cá nos EUA? E você queria que fizessem o que?
Tantos livros destes aqui comentados queimados por serem acusado de panfletagem do comunismo e talz, e nem precisava. Quem é que se importa? O Rio de Janeiro continua lindo, Deus é brasileiro.