Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Capitães da Areia, de Jorge Amado

Observei alguns sites que tratavam do livro para me basear nessa resenha, e eles só tratavam da história, faziam um resumo e diziam que era atual. Só. Se há alguém que discorde, manifeste-se agora ou cale-se até ter argumentos melhores: a história do livro é quase dispensável. O enredo não é nada revolucionário, o que mais contou ali foi a essência. As entrelinhas. 

A história de Capitães de Areia é a história de alguns membros de um grande grupo de menores abandonados, que roubava e roubava no Rio de Janeiro. Aliás, o Rio de Janeiro continua lindo; a história de cada um, envolvida com a dos outros, nos tempos em que pessoas de quinze anos ainda eram crianças e não sabiam nada sobre sexo. 

Resumida em alguns personagens está lá a sociedade que ignora sistematicamente a situação dos menores, acreditando que são ladrões e isso é tudo. A Igreja que prefere dar mais atenção às madames que dão o dinheiro após a missa. O jornal que coloca peixes grandes em primeiras páginas e sardinhas lá pelo meio, escondido, sem atrativo; quem é que precisa saber da verdade? 

Todo o glamour dos boêmios e malandros, que vivem à custa de mulher-meretriz e arrumam brigas. O Brasil é aquilo ali. Houve epidemia: houve o lugar onde os pobres doentes iam e todos sabiam que não haveria volta. Houve os socialistas ou coisa semelhante, usando o podre do sistema para brincar de soldado com o sistema. 

A prisão de um deles, os maus-tratos na onde foi levado. E para quê qualquer um iria querer ser levado pra lá? Jorge Amado diz e diz de novo que tudo o que crescia naquelas crianças era ódio. De nunca ter tido o que poderiam ter — o que o mundo me pede não é o que mundo me dá — de não ser tão grandes como talvez pudessem ser. 

Tudo bem, podem falar que é demagogia, eu sou mesmo um médio-burguês abastado que reclama das coisas que não pode mudar. Mas que é verdade é. As pessoas tão lá matando no Rio? E você queria que fizessem o que? As pessoas tão matando cá nos EUA? E você queria que fizessem o que?

Tantos livros destes aqui comentados queimados por serem acusado de panfletagem do comunismo e talz, e nem precisava. Quem é que se importa? O Rio de Janeiro continua lindo, Deus é brasileiro.

sábado, 26 de abril de 2014

Um Olho No Resto do Mundo

na Inglaterra, um pouco depois da hora do chá. 

Estava em frente à um quadro surrealista. Em um momento de descuido, aquele amontoado de tinta vermelha e azul lembrou-lhe uma pintura de sua filha de seis anos. Mas ele controlou-se rapidamente. Comprimiu os olhos, tentou ver o significado, no monte de tinta vermelho e azul. Alguém veio do lado dele e comentou, como quem não quer nada: É uma crítica à sociedade consumista, ao capitalismo e à virgindade. Opa, isso mesmo. Era o que ele ía dizer, estava na ponta da língua.


no Japão, na hora em que o Sol nasce. 

Eu esperei muito tempo por isso, ele disse, e observou o inimigo. Sua arma na mão, os olhos que não piscavam, o corpo que não tremia. Ele poderia dizer que o adversário o fitava também - mas não estava, e isso era também parte da estratégia. Nunca saberia o que lhe atingiu. Sayonara!, mas errou a mira, o chinelo caiu de sua mão, o pernilongo saiu voando. Tanaka sentou-se e chorou.


em São Paulo, vinte e três horas. 

O filho estava gritando novamente. Seus argumentos eram bons, algumas pessoas veriam isso, mas a mãe ignorava sistematicamente todos os argumentos e gritava mais alto. Ela vai começar a chorar, o marido pensou, enquanto remexia seu arroz e feijão. O filho gritou mais alto, ela colocou as mãos no rosto, se levantaram os dois. O pai socou a mesa. Houve silêncio. Ele começou a cortar o bife.


às treze horas da tarde, na Indonésia. 

Ele já tinha saído da sala, seus acessores já tinha batido a porta com força. Passaram-se alguns segundos e ele abriu a porta novamente. Gritou: 'Bwahahahaha!'. Não existia vilão sem 'bwahahahaha!'.


em Guernica, doze horas da tarde. 

Estava de armadura, sentado. Metal, brilhava. Algumas runas aqui e lá. O Cavaleiro do Novo México, sempre atento ao mundo e aos seus deveres, assistia ao Chaves. Alguns episódios que tinha gravado. Ele riu e se lembrou que já tinha ouvido a piada. Pensou em retirar a armadura: estava calor e assim ele mudava de posição mais fácil. Sem falar de conseguir alcançar o controle remoto.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Moleque do Metrô

Em uma voracidade admirável, as pessoas buscam os bancos do metrô. Sentam-se, agarram-se aos apoios. Fecham as caras, observam o nada — parecem entretidas nas próprias vidas. Acho que nunca vi ninguém sorrindo num metrô, salvo as que conversam. 

Estação São Bento, ouça a conversa do homem da camisa azul/branca — 'pobre não paga imposto. não me venha com conversa que pobre não paga imposto!'. Estação Sé, 'vamos, levante-se, acho que tem que dar lugar pra velhinha.', anh, 'tá, levanta você.', e, 'não, eu não. levanta você'. 

O eleitor discutindo, o hipócrita sendo amável. Lindo. 

E há uma garota sentada num banco. Apostila de alguma coisa 'model', vestido negro, indefectível, olhos castanhos, cabelo escuro repicado. Minutos, minutos. Ela levanta. Outro esbarra nela quando ela vai sair, o moleque do título. Ela esbarra, finge que não esbarrou, olha para os lados como se perguntasse 'quem esbarrou?'. Então, ele olha para a nuca da dita moça, e cheia o olor dos seus cabelos. 

Engraçado. Só eu ri. Pessoas não riem no metrô.

GrandMamma

Dois post sobre pessoas da minha família, eu devo estar ficando maluco. 

A minha avó é maluca. Ela consegue conciliar a realidade (aquilo que todo mundo vê) com o que ela pensa, os conceitos dela, misturar tudo, adaptar tudo, apagar o passado, lembrar de algo que não aconteceu e até criticar possíveis personagens. 

Maluca mesma. Me pediram um documento só, para ela, me pediram todos os documentos. O cara de uma banca não quis ver um negócio lá, ela criou falas e o cara era invejoso. Uma beleza de cabeça, a dela. 

Já leram 1984? Ela é mestre em duplipensar. 

Disseram aqui que todas as mulheres são assim, adaptando, inventando e acreditando no que criaram. Mas não sei não.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

de como as pessoas são diferentes.

o post mais pessoal do ano.

Hoje, dia Vinte e Quatro de Abril de Dois Mil e Quatro, é, sob diversos pontos de vista, um dos dias mais importantes da minha vida [som de tambores]. Alcancei algo maior do que todo o resto que tinha conseguido. E, quê merda, eu não me importo. 

Hoje eu estive presente na Bienal do Livro na Pauliscéia, e publiquei pela Litteris Editora um texto em uma antologia. Chama-se São Paulo em Prosa e Verso; o meu texto, "Morrendo...". Sou escritor de verdade agora? 

O caso é que a minha mamãe, que também escreve (leia: escrevia), publicou um texto lá dela. E ela era um orgasmo ambulante. Eufórica, e ela já tinha publicado antes. Como eu posso me sentir tão diferente dela? Por que eu não agradeço a todos os santos como os outros escritores presentes? Por que não rio, grito, regojizo-me e digo que isso foi algo realmente relevante na minha vida? 

Porque não foi, porra. As pessoas são loucas, isso sim. 

Eu penso que o que eu vejo diverge das outras pessoas. O que eu vi no salão onde os autores falavam, declamavam? Vi pessoas contando histórias de trinta anos tentando, e o que conseguiram? Página e meia de antologia, da qual pagaram cada sílaba. O que eu vi? Pessoas que não leram as obras uns dos outros, mas tomavam autógrafos. Era algo feliz, uma amabilidade, sei lá. Besteira. 

Sem dizer que idade é um pé-no-saco. "Com essa idade", e blá, blá, blá. Me senti um picachu. Bochechas apertadas, pelo acariciado: "Ele solta choque mesmo? Mas ontem mesmo ainda era um pichu!". Blá. Me senti no primário. E minha mãe ficava enfiando o livro pela boca das pessoas dizendo que eu tinha escrito nele. 

Eu tomei autógrafo de uma tal Ludimar Gomes Molina, o poema foi um dos que mais me agradou, descreveu muita coisa. Outro, que poderia bem ter sido escrito pelo Trunkael, de Ana Paula Diniz, que eu não consegui achar na porcaria da sala. Aí desisti e fui comer cachorro-quente. 

E as pessoas começam a contar pra todo mundo essa coisa pouca. Tio, cunhado, dono de banca de jornal, proprietário de bar, prima distante... eu não contei pra ninguém. Nem meu pai sabe. Pra quê? Quando for alguma coisa verdadeiramente grande, ele descobre, deixe estar. Deixe-me escrevendo como neste blog: ninguém que me viu as fuças lê, nem sabe que existe. Salvo algumas poucas exceções. Devo dizer, uma.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Alguém Tem Que Ceder

É uma comédia romântica, coloca os personagens em algumas situações constrangedoras, algumas frases colocadas no momento certo, há reviravoltas. 

Encontros e Desencontros é melhor, bastante. Tem alguma coisa na história que se assemelha. É engraçado, as pessoas do cinema entravam em gargalhadas coletivas que eu não ouvia há um bom tempo. 

Possui a cena de sexo mais memorável desde Todo Mundo em Pânico, a melhor descrição de efeitos colaterais amorosos do ano e a pior sequência de cenas — dela chorando, chorando, chorando — que já vi em alguma filme.

Mar de Fogo

É um filme de aventura, com moça não-tão-indefesa, bandido mandado por mulher-rica-desprezada pelo mocinho, frases de efeito, e, é claro, um mocinho. O mocinho é o mesmo que fez o Aragorn em o Senhor dos Anéis

Este não empolga muito. Tem lá suas piadas, mas é só. O cara de A Múmia o põe pra trás, e mesmo sem me lembrar dos filmes do Indiana Jones, o Indiana o põe pra trás também. Aliás, o cavalo tem um atuação melhor do que a dele. 

A história é a seguinte: desafiam o cara e o cavalo dele pra uma corrida que dizem ser realmente difíceis. O cara aceita, o cara vai lá, o cara ganha. Bom chiclete cinematográfico (copyright 2004, cale-se Trunkael). 

Eu tentei fazer uma pesquisa aqui e trazer informações mais relevantes: afinal, isso tudo é baseado na história de Frank Hopkins, que venceu não sei quantas corridas e foi ativista, ao lado dos índios. Não consegui nada: diversos links sobre o filme, uma promoção, um site de boxe.

Você pode observar que são os americanos ganhando dos árabes, que são estranhos e só sabem se matar. Você pode ver uma garota árabe renegando seus costumes, um árabe apaixonado pelos costumes americanos e perceber que o herói aceita o seu sangue índio, nem tão americano. Ou pode só assistir.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

o objetivo é cinza.

Este seria dia de três posts, mas quando acabei o primeiro, todos os outros foram embora da minha cabeça. Pegaram suas coisas e saíram, nem disseram "adeus", ou qualquer outra amabilidade qualquer. Um deles, que se chama Carlos, ou coisa que o valha, diria que adeuses são inúteis — não está vendo que me vou? — este é ele — então para que teria de dizer-te que estou indo? 

Não sei. Talvez eu não tivesse percebido. 

Pois é, pegaram suas coisas, umas mochilas, uns cadernos - escreviam apenas com canetas roxas, e apagavam com borrachas amarelas que não conseguiam apagar tinta de caneta. Andaram, abriram a porta e saíram. Mas — ei — parece que algum, sorrateiro, ainda restou - isso aqui não deveria ter durado tantas linhas. 

Apaguei três linhas que escrevi. São linhas mortas. Linhas morreram. Eu tenho poder, eu sou Deus. Som de gargalhadas por todo o navio, todo o barco, toda a jangada, ou coisa que o valha. A tempestade vem, o céu enegrece, e tudo o que um deles faz — aquele que tem chapéu cônico e olhos amarelos — é rir, gargalhar debruçado no convés. Ele está encharcado e ri, ri, ri-se. Rir-se assim é estranho. 

Eu devia dizer algo neste post, como avisar para a Light que eu dizia "o" Light por conta dela ter afirmado: "sou dono de minhas opiniões". Mas ela está no meu ICQ que funciona de vez em nunca, digo a ela daqui pra lá mesmo. 

Eu devia falar sobre a NW, uma sala de bate-papo que me fez conhecer pessoas mais relevantes do que tantas outras que havia conhecido em, anh, catorze anos de vida? Deve ser. Mas eu podia tornar sério, falar para as pessoas que às vezes os lugares se criam para que possamos nos unir. Mas seria mentira. 

Mentiras são legais, um prato cheio, por favor, com fritas. Pelas fritas eu pago, sem favor; mentiras são legais, mas pagar por elas é errado. 

O que isso quis dizer? Nada. Pare de procurar sentido. O som das gargalhadas está me deixando maluco. As últimas gotas caem no convés. O rapaz risonho se levanta. Hora de trabalhar. Ele segura o cajado. Ri de novo.

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector

Clarice Lispector é caótica em cada sílaba. Das sílabas juntas, palavras, das palavras unidas, frases, é o que consegue ser descrito. Pode ter vislumbres do significado — e sabe lá se mesmo a autora os entendeu? Há um abismo entre cada palavra. Preencha-os com o que você pensa. As palavras dela vem para o seu lado, você os vê, eles dizem: "Decifre-se ou devoro-te". 

A história é escrita, feita só de fatos — e sabe por quê? — penso que é como uma defesa do próprio autor. Talvez seja pecado jogar a luz dos holofotes onde a mesma teme (teme?) tocar. Fatos não podem ser negados. Eles estão lá; feche os olhos, jogue-se de bruços. E eles ainda estão lá. 

Macabéa, o ponto sujo e inútil que agora se vê, é virgem, feia, burra, inútil, descartável. Um ponto de referência para Escória. Sua imensa pequeneza a fez nascer em si mesma, há outras variedades, há outros níveis, mas só ela é ela mesma; e a idéia de um futuro já lhe torna outra pessoa. Sorriso vago, espectadora de sua vida, e aí chega sua hora de vida, a hora de estrela... 

Macabéa não crê em Deus porque não entende, mas reza para ela, como aprendeu, ou só reza, sem saber pra quem. Macabéa não odeia, não se vinga, porque lhe disseram que era ruim. Macabéa mente porque é fácil. E o autor está certo. Ela te prende. Até sinto saudade dela, a escória.

E sabe por quê? A exorbitante pequeneza desta moça, sua inferioridade - esta te cospe na cara — é gritante sem chamar atenção. A whisper trought a megaphone — Macabéa é tremendamente humana pois não é mais nada. Ela não finge, não mente, não se vinga, pois ouviu que não devia. Não odeia, ama, sem lascívia ou intensidade. 

Humana. Me perdi na humanidade dela. Quando você olha pro abismo, ele te segura pelo colarinho e te coloca sob correntes. Esse é um livro incompleto pois lhe falta a resposta — quem sou eu é pergunta que causa carência, por isso ela não perguntava. E, quando morreu, foi estrela. De sua própria história. Saída discreta pela porta dos fundos. 

E eu posso vê-la na multidão agora. As pessoas não deviam escrever livros tão perigosos, coloquem os livros em ferros. Humanos são presos por suas ações — e humanos são só palavras — grandeza, o infímo, a grandeza, e o infímo, e grandeza, e o infímo. E as estrelas.

terça-feira, 15 de abril de 2014

O Náufrago

Quando eu era bastante pequeno, escrevi conto de duas páginas, frente e verso, dum moleque que caía de avião numa ilha. Eu tenho certeza que roubei a idéia de outro lugar. Eu também li um daqueles livros infantis pequenos, duma coleção aí, chamado A Ilha Perdida. Li na sexta série e não gostei. E eu também não gostava da professora. 

Tergiverso. 

O filme não mostra nada mais do que qualquer um espera. É um cara que caí na Ilha, sobrevive e volta [som de tambores]. Eu gostei de vê-lo inventando utilidade pras coisas. Gostei das tantas horas em tentar fazer fogo - principalmente dele, já em terra crescida, acendendo lâmpadas e usando o acendedor várias vezes seguidas. 

Deixa ver, também reparei na vida do homem e imaginei o tal estado de natureza de Rosseau. Eu poderia ser sério, mas, piadas que venham: deve de ter havido um homem primitivo bastante estúpido, realmente estúpido, para ficar esfregando a porcaria de um graveto em algum lugar. E, veja, não é que ele foi inteligente? 

E ele deixou uma só caixa de entrega fechada? Não prestei muita atenção. Foi tipo algo para mantê-lo perseverante? Aqui um amigo disse que lá dentro havia um celular, com bateria e tal. E ele não abriu. 

E gostei do Wilson. Será que todo ser humano necessita de qualquer relacionamento que consiga? E o que o cérebro se agarra a qualquer possibilidade, a realidade não manda em nada? - lembro de um comentário de um leitor que nunca mais apareceu por aqui, no Sobre Meninos e Lobos — ele disse: Nós nascemos sozinhos. Nós vivemos sozinhos. Nós morremos sozinhos. E qualquer coisa neste intervalo que possa nos dar a ilusão de que não estamos sós, nós nos agarramos a ela". 

É. É?

domingo, 13 de abril de 2014

Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Amor. Ódio. Vingança. Amizade. Deus. Diabo. Em mais meia dúzia de palavras e reduzo o livro; ou será que o engrandeço até perder de vista? Se fossem poços, quem é que enxergava o fundo de cada uma dessas palavras? São paradigmas do estado humano. São partes de toda história. Sertão. O Sertão é o mundo. 

Só se aprende é a fazer maiores perguntas. O livro, vai, é pergunta grande inteira; diálogo extenso entre o Riobaldo e um doutor. Riobaldo, os assuntos que levaram sua vida; o narrador conta sua história e reafirma com a história de outros; a história de todos vale porque todos não são só um. E ele tinha que encontrar aqueles todos? Tinha que encontrar?
  
Há esse vislumbre de necessidade das coisas. As pessoas se amolam umas as outras, até a perfeição. Existe o Diabo? Existe não. Existe só o homem, e seus conflitos. Suas mudanças. Existe a guerra, existe a honra. A história é ele, de garoto qualquer, até jagunço, até líder de todo um grupo, por vingança, para pegar o Hermógenes, para vingar Joca Ramiro. E isso se sabe tudo no começo, primeiras páginas; o conto não é linear. 

É como se ele cerzisse os fatos: começa com um, entra em outro, reafirma-se com mais um, e une tudo em um só ponto. Dalí ele parte. Dar razão a sua própria vida, recontando? Acho que nem ele sabe. Não é assim a vida, coisa sobre coisa e por cima do monte se vê tudo? O senhor que o diga. O senhor que julgue. 

O Sertão não é dito. O Sertão é descrito em sua misticidade, na cabeça ele se forma: sol, terra e veredas. Ou você o molda ou ele te molda. Viver é muito perigoso. O Sertão é o homem humano. 

melhor livro do ano: por conta disso a resenha caótica e que não diz nada. mas eu volto ao assunto.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Confidence - o golpe perfeito

De começo, imaginei o negócio todo como sendo um segundo O Troco, e a história é, de longe, parecida. Um trambiqueiro realmente bom acaba enganando quem não queria, pega dinheiro errado de chefe do crime. O chefe do crime não gosta de ser enganado e cobra o trambiqueiro. Trambiqueiro diz que faz um golpe pra ele e tudo fica às pampas. 

O escolhido pro golpe é um outro, lavador de dinheiro, dono de banco ou coisa que o valha. O golpe é difícil, diz o trambiqueiro, o chefe não se importa, dá o dinheiro que se precisa e põe um dos seus homens nos calcanhares do trambiqueiro. 

Um golpe é como uma peça de teatro onde a única pessoa que não sabe suas falas é quem está sendo enganado - fiquei todo o filme tentando prever os acontecidos, observando cada detalhe. Fui enganado. Eu poderia dizer o mesmo que o chefe do crime no final. Quando levantava da cadeira, expressei-me ao nada: "filho-da-puta...", e era um elogio. 

Como é o nome da doença que faz a gente ficar satisfeito depois de ser enganado?

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os Guhllar

Uma visão peculiar: isso seria uma conclusão apropriada. Um ser de dois braços e duas pernas, membros aparentemente fortes. Certo tom azulado na pele da criatura, vestes grossas e largas caem sobre o corpo. Na mão esquerda, um grande machado. Grande, realmente grande. 

Cabelos longos, repartidos no meio, caindo em simetria perfeita. Dois olhos arredondados, até a metade do que era o rosto, um nariz pequeno — praticamente dois buracos no meio do rosto. As orelhas também eram apenas buracos nas laterais. A boca, apenas uma fenda abaixo do nariz. 

De modo que tudo aquilo parecia uma criação de criança com massa de modelar. 

Eram um raça guerreira, os Guhllar. Armados com machados, aqueles realmente grandes que citei, ou um par de espadas ainda maiores, marchavam em enormes companhias na direção de seus inimigos, e não gostavam de nem ao menos deixarem os membros conectados ao corpo. 

Os Guhllar destruíram muitas cidades e mataram muitos em seus bons tempos, mas se perguntassem a qualquer Guhllar por quê, ele não seria capaz de perguntar. 

Afinal, a memória de um Guhllar é de curto prazo. Assim, um Guhllar olha para uma árvore e decide que quer uma laranja. Nos próximos cinco minutos ele irá caminhar até a árvore e se esquecer de por quê está fazendo isso — mas terminará o ato por osmose. 

Varia de acordo para cada Guhllar, mas, com certeza, em cada grupo de dez mil Guhllar em um ataque, oito mil só estavam correndo e destruindo quando chegaram ao seu destino. 

Qualquer pessoa que um dia desejar escrever sobre a história dos Guhllar, dirá que foram um povo que não acumularam conquistas, pois não se lembravam do que queriam conquistar. Viveram de resquícios de memórias, e reproduziam por sorte.

terça-feira, 8 de abril de 2014

ponto

A programação de hoje foi interrompida para uma resposta formal à um comentário. O texto abaixo, enorme, só precisa ser lido por uma pessoa. E lembrem-se: usem sabonete, sejam sabonete.

Àquele que toma para si o epíteto de Light.

Demorou um ano para que alguém fizesse uma crítica dessas; aguardei um ano para que alguém se movesse de forma tão significativa. Eu realmente espero que tenha fundamento essa propaganda de sabedoria. Realmente espero, realmente desejo que tu me leves à libertação espiritual, ao Nirvana, ao McDonald's, ou coisa que o valha. Não me decepcione. 

Vejamos: eu não sei o que escrevo, eu sou niilista, sou sofista, sou verbalista e fico preso em um quarto sem portas pensando em meios de espalhar minhas mentiras escabrosas por aí. Aprendi alguns termos de alguns livros e saí por aí, zoando. Deus, eu sou mal. 

Nos últimos dias, só tenho escrito contos e resenhas. Coisas que eu criei e descrições do que observei. Niilista? Bom, não sabia ao certo o significado, fui ao dicionário. Veja lá: adicione mais um livro do qual roubo termos. Creio que não sou niilista, portanto. Sofista? Anh, li um livro, não lembro qual - o único que não dava abordagem pejorativa aos sofistas. Os caras eram professores, tinham um sistema de ensino lá, cobravam por isso. Na vez, pensei que puderam ter feito com eles o mesmo que com os judeus, no caso Cristo. 

Tergiverso. Voltemos ao ponto. 

Não faço nada? Real verdade. Eu penso no que poderia fazer, e, ainda mais penso se deveria fazer, como poderia. Coisas que eu posso fazer, são poucas - não se causam incêndios com dois fósforos (frase bonita, né?). Se deveria - porque as pessoas tem suas vidas e suas razões; eu, abastado eu, sei o que é certo pra elas? Como fazer? Isso eu só imagino. 

Mas que seja, que eu seja tudo o que disse. É óbvio que acredito no que estou dizendo. Não foi um iluminação implodindo de você que trouxe essa conclusão. Devo lembrá-lo, a tempo, que também sou dono de minhas opiniões, e que as outras pessoas que leem esse blog (cerca de, anh, quatro) não tem mentes pobres. Aliás, eu também deveria lembrá-lo que as pessoas geralmente contam mentiras como se fossem verdade. É o que as faz funcionar. 

E escrevo por escrever; olha só, puxa vida, que coisa. Eu deveria escrever pelo quê? Pela salvação mundial? Pelos famintos na África? Simples, cara: eu quero falar sobre um livro, eu falo sobre o livro. E coisas parecidas: isso é esse blog. 

E, diabos, eu só apaguei um post. Um post, porque pediram para que eu tirasse. As pessoas foram mais relevantes do que minhas linhas: enforquem-me. Aqueles que eu acho pessoal demais? O post abaixo diz que minha mãe come uma trilha de merda. Quer que eu seja mais explícito? Ou detalhado, talvez? Pois não vou ser. Vá ver o Ratinho

E é claro que um pensamento deve ser julgado. Julguem todos os meus, por gentileza. Só não usem lugares-comuns como ofensas, como o tal Light: se sou niilista ou coisa diversa, diga onde e, anh, por quê. É divertido. Quase tão bom quando gelatina de morango.

domingo, 6 de abril de 2014

BLáh Blog

1 - Tenho que reescrever o conto da Marie Allonberg. Pensei em algumas coisas, anh, divertidas. 

2 - Segunda-feira, ontem, fazem dez anos da morte de Kurt Cobain. Esse blog presta tributo. 

3 - Há uma pessoa insuportável aqui. A voz dela me irrita, a existência dela me irrita, e ela me leva a pensamentos do tipo que o John tem com relações à música. Se eu ouvir, mais uma vez, a palavra "artista" da boca dela, vou vomitar. 

4 - Uma certa senhora tanto néscia, a qual me deu a luz, depôs suas críticas sobre os erros dos pais durante muito tempo, com meus ouvidos pude ver a trilha de esterco que ela descrevia. Hoje, eu a vejo comer a merda, agachada e seguindo o mesmo caminho. Curioso. 

5 - E mais curioso é o fato dos dois participantes do Big Brother que estão na final serem, coincidentemente, aqueles que entraram com ajuda das revistas. Os pobrezinhos, os maltratados pela sociedade. Que coincidência. Será que alguém vai comprar mais revistas agora?

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Marie Allonberg

Marie era menina moça. 

Virgem até as canelas, e iria continuar assim. Marie era bonita, bastante, tinha olhos verdes (todo mundo gosta de olhos verdes), pele macia (todo mundo parece gostar de pele macia), boca carnuda (muita gente fala bem das bocas carnudas), seios fartos (ah, quem não gosta de seios fartos) e nádegas assaz arredondadas (o que é dever cívico brasileiro). 

Podemos dizer, então, que Marie era deveras bonita. Ninguém discorda. Ou sim? Alguém? Bem, eu achei que não. 

Marie teve alguns namorados, e ela tinha bom gosto. Não possuo o gosto feminino, portanto, não irei discorrer sobre o assunto. Mas eram bonitos, e nenhum deles era educado (educado?) ao ponto de não querer, anh, levar o relacionamento a um ponto mais, anh, avançado. Mas não deu, não deu. Era o problema de Marie, velho problema. 

A garota não tinha vagina. 

Lisinha, lisinha. Você olhava e, ih, cadê? Não tinha nada lá. Nem pêlos. Nada, nada, Decepção de todos os rapazes acima citados. E a garota se desculpava: "Ah, o que eu posso fazer?", e, como todas as pessoas dizem por aí, quando querem discutir namoro alheio, "Você tem que me aceitar como eu sou". 

Eles não costumavam aceitar Marie como ela era. Até tentavam, mas não dava. E ela ficava tão triste — tão triste até o ápice, tornava-se irascível, mordia, arrancava pedaço. E não fazia o, anh, "ato", de outra forma alguma. 

Esse e outros motivos desconhecidos deste escritor explicam porque ela era menina moça. 

Mas houveram dois acontecimentos. O primeiro era o do aparecimento de certo soldado na vida de Marie, seu nome, como era mesmo? Ah, acho que era Lucas, acho que Mineiro, ou Ribeiro, ou coisa que o valha. E o segundo acontecimento fora a ajuda do amigo de Lucas. 

E tudo aconteceu por conta da Revolução, ah, doce Revolução. Marie tornou-se enfermeira, coçou e pintou uma espinha no nariz até parecer verruga — para não ter que aguentar cantada de soldado nenhum, e partiu para revolucionar, mudar, bagunçar o coreto, seja lá o que for 'coreto'. 

Acontecidos alguns irrelevantes acontecidos, Marie foi curar o Lucas. Lucas olhou pra ela, olhou para a verruga, e Marie descreveu seu olhar como "faminto". Ela sorriu, ele levantou mesmo machucado, levou-a para um canto. Nem houve como negar. Nem deu cinco minutos, ele voltava, aborrecido. E, anh, mais faminto do que antes. Ela o viu falando com um amigo, o amigo pareceu se enfurecer também. 

Amigo veio, veio com uma navalha nas mãos. Dizem que foi aí que criou a frase "ou vai ou racha", nessas mesmas palavras ditas pelo amigo. Dizem outros que esta fora variação de "ou se vira ou racha" e "ou faz ou eu racho mesmo", mas as pessoas dizem qualquer coisa. 

Então, Lucas Ribeiro voltou, ela virou, acabaram casados e foram felizes.

terça-feira, 1 de abril de 2014

bláh Blog

1 - Vi a novela da Globo, um pouco, Celebridade Em uma TV de, anh, mais de cinquenta polegadas, algum aparentado ou coisa que o valha de um, anh, diretor de revista de enorme sucesso jogava videogame. Playstation 2? Game Cube? Ora, não sejam tolos. Era um Dynavision e seus gráficos de mais de impressionantes oito bits. 

2 - Big Brother é, na verdade, um projeto americano para sondar o comportamento humano no mundo inteiro. Sabem, agora, perfeitamente, o que diversas raças do mundo fazem quando são aprisionados, vigiados ao extremo e expostos ao ridículo. 

3 - Hoje é aniversário de quando os militares tomaram o poder, em 64, e quando pessoas que falavam, anh, demais, morriam com tocos de madeira enfiados no ânus, após algumas horas de tortura simpática. Obséquio, leiam novamente o texto de O que é isso, Companheiro?, e comentem, se não lhes for incômodo. 

4 - Eu ouvi falar que cancelaram o show do Pixies. Nada me prova; alguém pode me confirmar. [pequeno brilho no olhar: "Se eu não vou, ninguém mais vai!"]

Sonho de Hoje à Tarde

Às vezes eu tenho uns sonhos realmente estranhos. Dá até gosto de dormir. Este ocorreu hoje, e só conto por duas razões: é um daqueles sonhos em que tomamos consciência de que estamos sonhando e é o mais recente, e dele me lembro melhor.

Ao que me parece, ele começou em algo parecido com a minha escola — pátio e sala de aula em frente ao pátio. Nesta sala de aula, meio que estavam os alunos, e meio que estavam instrumentos e coisas afins duma banda de rock. E era um fato passado. Existe uma banda, o Dance of Days, e era um ensaio deles, antigo, na sala de aula da minha escola, em frente ao pátio. 

E meio que o Nenê Altro, vocalista, estava um tanto frustrado. Nada estava bom. Nem as letras dele. Lembro de tentar imitar o baterista tocando, sem sucesso, e, depois pegar as letras pra ler, dar uma força e talz. Nisso, saí da sala. 

Pátio, corredor ao lado, sala dos fundos. 

Na sala dos fundos, o roteiro anterior foi abandonado. Era eu e eu estava com as letras, mas, tipo, dane-se. Haviam alunos e livros - aí eu paro, tomo consciência de sonho, pego uma aluna, reconheço-a como pensamento meu e digo: "Me lembra o nome dos livros que estão aqui". Eu queria lembrar deles, quando acordasse. 

Eu vi O Cabotino. vi um livro do Jô Soares, vi um que já não me vem à memória, mas era sobre Jesus, e ainda havia outros. 

Mas parece que isso de falar com pensamento era algo ruim. E parece que eu notei isso, e, em menos de dois quadros e filme rodando eu estava fora da escola, andando pelas ruas — fugindo, eu acho. Eu e o meu pensamento, a menina. Só não tinha trilha sonora. Nesse momento parece que já iam nos pegar. Íamos atravessar a rua. 

Por via de análise: o pensamento era menina meio que gordinha, cabelo pouco abaixo dos ombros, algumas espinhas, olhos castanhos, blusa vermelha. 

Pé na rua, virei pra ela e disse: "Como será que é transar no meio da rua?", e me joguei, eu e ela, meio da rua, eu sobre o pensamento, carros vindo. E notei de novo, consciente, os carros eram pensamentos, porra. Sem mover um dedo do lugar — em termos de sair da rua, entende? — os carros pararam, centímetros antes de mim. 

E a brincadeira com a cunhã (a la Macunaíma), ali no meio da rua, iria continuar. Mas não continuou. O mundo desacelerou, vieram uns closes, e, alguma coisa aconteceu, um fato nela — ao que me parece — impedia de alguma forma, e, antes que descobrisse, eu acordei. 

Sonhos são novelas mexicanas com Mel Gibson dirigindo.