O brilho das derradeiras bombas atômicas caindo do céu remete minha memória ao olhar cansado de cem dezenas de milhares, estes que julgam sem trabalhar e trabalham sem julgar, seguindo, assim, em um nível maior, a estratégia de outros cem, cem mil humanos, irrevogalmente humanos.
E olhe, veja só - observe como a Natureza trabalha em sua infinita paciência. Os pássaros e suas melodias, as flores e sua cor apaixonante, a felicidade e sua vinda tardia, a tristeza e sua existência maçante. Tudo o que ela construiu, com esmero e dedicação. Deve ter arquitetado por tanto, tanto tempo. Planejado como as coisas cresceriam, como as coisas correriam, quais coisas seriam coisas e quais coisas não seriam.
E ela criou os seres com maior liberdade; de todo o resto, esses seriam os que teriam a chance de mandar em mais do que pudessem comer ou com o que fornicar em dias ensolarados e escolhidos para procriação. Sorriu com seus lábios etéreos e disse:
"Bom dia, humanidade".
Então, provamos que éramos superiores. Em mil anos, destruímos mais do que ela criou em um milhão. Observamos suas lágrimas (?) e não vimos mais do que uma razão para continuar. Criamos as máquinas, e elas ocuparam o lugar das flores e dos pássaros e da felicidade e da tristeza.
Tomaram nosso lugar também, controlaram nossos meios de controle também, e lançaram as bombas. Enquanto a última bomba caía eu pude lembrar. No momento em que as máquinas iniciavam uma reconstrução.
(original)