O livro é escrito por essa moça aí, e ela escreve no Caros Amigos, que uma menina me garantiu que era um bom jornal — e eu, como bom idiota, não fui ver. Ele conta a história de Augusto dos Anjos, uma poeta nosso. Resolvi não ler nada dele para manter-me apenas no que o livro passa.
Augusto dos Anjos teve uma história complicada. Misturou cientificismo com a poesia, falava de morte, lançou um livro que só foi realmente reconhecido após sua morte. Um homem que temia tornar-se cego, colocava um pano sobre os olhos e treinava em casa.
Creio que é nisso que a autora acerta: nas pequena histórias. O livro, com suas miríades de capítulos, tem espaço reservado para cada história, cada momento, cada descrição. Uma frase de Augusto aqui e lá ("a mão que afaga é a mesma que apedreja"), pinceladas de como era o Rio de Janeiro em 1914, algumas revoltas políticas, outros poetas.
Histórias: como a do misantropo, o tio de Augusto, que entrou em seu quarto e não saía para nada, só para comer. Olavo Bilac, que disse que morreria assim que um relógio parasse, e assim foi. Há uma crítica às escolas literárias — alguém faz algo bom, outros se perdem na essência, acabamos no medíocre. O trecho que compara o Parnasianismo com o Simbolismo é, anh, brilhante.
E, além disso, uma das melhores descrições de sexo da história:
"Perguntei-lhe se sabia o que era copular. A imagem que ele tinha de um homem copulando com uma mulher era assim: uma contorção neurótica de um bicho misturada à ferocidade de uma horda de cães famintos que é o homem, devorando um ser ilusório feito de mistério e luz, que é a mulher."