Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

I'm telling some dreams to a girl.

Fui ao centro. Entrei no ônibus. Conclusões? O homem que fala comigo não percebe que tenho dificuldades para ouvi-lo. Não faz diferença, não me importo tanto. Balanço a cabeça e digo "uhuns". Moça bonita entra no ônibus. Lá está ela. Lá passa ela por mim. Lá passa ela pela catraca. Lá passam-se pontos, lá ela desce — esquece a garota, rapaz. Planos ralos de encontrá-la: se alguém pega um ônibus às oito da manhã de terça, repete a façanha. Esquecem-se os planos. 

Desce. Primeira parada, hospital. O homem que me acompanha fará consulta. O homem na portaria possui estilo: admiro-me com esses tais que tem estilo marcante, no corpo todo; como aquele senhor negro de chapéu e casaco que vi na rua — mantendo-se apegado ao que usava antes. Não sei, aquilo inspira quase que um sentimento cívico. 

Usarei all star e camisas xadrez quando estiver velho como ele? 

Saio à rua. Procura-se um sebo, encontro um enorme. Quê tipo de sebo é esse que não vendem-se livros por três contos de réis? Vinte reais? Porcos capitalistas! Hora de trocar revistas velhas. Banca antiga, na Santa Efigência. Compram-se algumas, trocam-se outras. Cara pão-duro miserável que me põe mais regras pra escolher as revistas do que posso suportar em uma compra sadia. 

Saio. O homem que me acompanha conversa com um sábio de meio de rua. Vejo os cds originais vendidos em camelô, concluo que são roubados. Observo os preços, percebo que mudam de preço, o que reforça minha crença de que não sabem nada sobre o produto que vendem, no caso um Legião Urbana, o Cinco. (Preços: quinze reais, dezoito Reais, vinte reais). Um índio tenta me extorquir vinte reais num cd duplo da Janis Joplin. Eu ouço história de um Rui Barbosa, que deu aula de inglês na Inglaterra — e percebo que não é motivo de orgulho, se até um húngaro daria aula de português em terras tupiniquins.

Volto a um ônibus. Micro-ônibus. Percebo que não há porta de saída para os micro-ônibus de São Paulo. Malditas diferenças intermunicipais. Pago, desço, caminho até a casa. 

Faço "pam-pam-pam-pam...pam-pam!" com a campainha. 

Coisas irrelevantes e relevantes acontecem. 

Ligo a internet. 

Tranco ideias numa caixa e conto sonhos sem sentido a uma garota com pesadelos.

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