Há um rato e uma gaiola no meu quarto. O rato tem um companheiro de cela, mas o companheiro não é importante.
Olhe para o rato. Não se avexe, olhe o rato. Ele fica lá, dia após dia, a escalar certo ponto da gaiola e morder o metal. Ele morde e morde e morde sem parar. Em sua crença, o metal se dobrará entre seus dentes. E no dia em que conseguiu abrir a portinhola de saída e correu pelos campos ermos que eram o piso do meu quarto, aquela pressão que nunca sai dos ombros dos presos estava nele.
O rato foi pego e posto de volta. Ele volta a roer o metal. Seu companheiro às vezes faz o mesmo: deve considerar que é o certo.
E toda vez que vêm para alimentá-lo, o rato se posiciona, espera um erro, um momento de descuido. Em seus olhos, naquele brilho no olhar — vamos, olhe para o brilho — pode-se ler: go ahead, make my day.
Um comentário:
O post original terminava com a frase: "Fé é uma menininha na praia esvaziando o mar com um balde furado", que era uma citação de um post do Alexandre Inagaki. Como não achei mais o link e assim essa parte perde o contexto, retirei.
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