Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Moleque do Metrô

Em uma voracidade admirável, as pessoas buscam os bancos do metrô. Sentam-se, agarram-se aos apoios. Fecham as caras, observam o nada — parecem entretidas nas próprias vidas. Acho que nunca vi ninguém sorrindo num metrô, salvo as que conversam. 

Estação São Bento, ouça a conversa do homem da camisa azul/branca — 'pobre não paga imposto. não me venha com conversa que pobre não paga imposto!'. Estação Sé, 'vamos, levante-se, acho que tem que dar lugar pra velhinha.', anh, 'tá, levanta você.', e, 'não, eu não. levanta você'. 

O eleitor discutindo, o hipócrita sendo amável. Lindo. 

E há uma garota sentada num banco. Apostila de alguma coisa 'model', vestido negro, indefectível, olhos castanhos, cabelo escuro repicado. Minutos, minutos. Ela levanta. Outro esbarra nela quando ela vai sair, o moleque do título. Ela esbarra, finge que não esbarrou, olha para os lados como se perguntasse 'quem esbarrou?'. Então, ele olha para a nuca da dita moça, e cheia o olor dos seus cabelos. 

Engraçado. Só eu ri. Pessoas não riem no metrô.

Um comentário:

Duanne Ribeiro disse...

Parece que há uma referência a Skank ali na descrição da menina: "seu vestidinho preto indefectível".

Essa cena do menino cheirando o cabelo dela — há uma cena fundamental de uma novela que estou escrevendo agora, a "José Deodato", em que isso também ocorre. Será que a novela nasceu nesse momento mesmo, ou pelo menos parte dela?