Em uma voracidade admirável, as pessoas buscam os bancos do metrô. Sentam-se, agarram-se aos apoios. Fecham as caras, observam o nada — parecem entretidas nas próprias vidas. Acho que nunca vi ninguém sorrindo num metrô, salvo as que conversam.
Estação São Bento, ouça a conversa do homem da camisa azul/branca — 'pobre não paga imposto. não me venha com conversa que pobre não paga imposto!'. Estação Sé, 'vamos, levante-se, acho que tem que dar lugar pra velhinha.', anh, 'tá, levanta você.', e, 'não, eu não. levanta você'.
O eleitor discutindo, o hipócrita sendo amável. Lindo.
E há uma garota sentada num banco. Apostila de alguma coisa 'model', vestido negro, indefectível, olhos castanhos, cabelo escuro repicado. Minutos, minutos. Ela levanta. Outro esbarra nela quando ela vai sair, o moleque do título. Ela esbarra, finge que não esbarrou, olha para os lados como se perguntasse 'quem esbarrou?'. Então, ele olha para a nuca da dita moça, e cheia o olor dos seus cabelos.
Engraçado. Só eu ri. Pessoas não riem no metrô.
Um comentário:
Parece que há uma referência a Skank ali na descrição da menina: "seu vestidinho preto indefectível".
Essa cena do menino cheirando o cabelo dela — há uma cena fundamental de uma novela que estou escrevendo agora, a "José Deodato", em que isso também ocorre. Será que a novela nasceu nesse momento mesmo, ou pelo menos parte dela?
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