Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Marie Allonberg

Marie era menina moça. 

Virgem até as canelas, e iria continuar assim. Marie era bonita, bastante, tinha olhos verdes (todo mundo gosta de olhos verdes), pele macia (todo mundo parece gostar de pele macia), boca carnuda (muita gente fala bem das bocas carnudas), seios fartos (ah, quem não gosta de seios fartos) e nádegas assaz arredondadas (o que é dever cívico brasileiro). 

Podemos dizer, então, que Marie era deveras bonita. Ninguém discorda. Ou sim? Alguém? Bem, eu achei que não. 

Marie teve alguns namorados, e ela tinha bom gosto. Não possuo o gosto feminino, portanto, não irei discorrer sobre o assunto. Mas eram bonitos, e nenhum deles era educado (educado?) ao ponto de não querer, anh, levar o relacionamento a um ponto mais, anh, avançado. Mas não deu, não deu. Era o problema de Marie, velho problema. 

A garota não tinha vagina. 

Lisinha, lisinha. Você olhava e, ih, cadê? Não tinha nada lá. Nem pêlos. Nada, nada, Decepção de todos os rapazes acima citados. E a garota se desculpava: "Ah, o que eu posso fazer?", e, como todas as pessoas dizem por aí, quando querem discutir namoro alheio, "Você tem que me aceitar como eu sou". 

Eles não costumavam aceitar Marie como ela era. Até tentavam, mas não dava. E ela ficava tão triste — tão triste até o ápice, tornava-se irascível, mordia, arrancava pedaço. E não fazia o, anh, "ato", de outra forma alguma. 

Esse e outros motivos desconhecidos deste escritor explicam porque ela era menina moça. 

Mas houveram dois acontecimentos. O primeiro era o do aparecimento de certo soldado na vida de Marie, seu nome, como era mesmo? Ah, acho que era Lucas, acho que Mineiro, ou Ribeiro, ou coisa que o valha. E o segundo acontecimento fora a ajuda do amigo de Lucas. 

E tudo aconteceu por conta da Revolução, ah, doce Revolução. Marie tornou-se enfermeira, coçou e pintou uma espinha no nariz até parecer verruga — para não ter que aguentar cantada de soldado nenhum, e partiu para revolucionar, mudar, bagunçar o coreto, seja lá o que for 'coreto'. 

Acontecidos alguns irrelevantes acontecidos, Marie foi curar o Lucas. Lucas olhou pra ela, olhou para a verruga, e Marie descreveu seu olhar como "faminto". Ela sorriu, ele levantou mesmo machucado, levou-a para um canto. Nem houve como negar. Nem deu cinco minutos, ele voltava, aborrecido. E, anh, mais faminto do que antes. Ela o viu falando com um amigo, o amigo pareceu se enfurecer também. 

Amigo veio, veio com uma navalha nas mãos. Dizem que foi aí que criou a frase "ou vai ou racha", nessas mesmas palavras ditas pelo amigo. Dizem outros que esta fora variação de "ou se vira ou racha" e "ou faz ou eu racho mesmo", mas as pessoas dizem qualquer coisa. 

Então, Lucas Ribeiro voltou, ela virou, acabaram casados e foram felizes.

Nenhum comentário: