Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

sexta-feira, 28 de março de 2014

das pessoas que não amo.

Ela tem daqueles olhos que não tem cor que traga interesse, sabe como é? Os meio que pretos, sem chegar a ser castanho. O cabelo dela, agora que parei pra pensar, acho que quer se fazer de vermelho, mas de um tom de ferrugem não passa. Não, ela não é boa com cores, é o que concluo. 

Mas o título é forte por demais, não dá pra continuar. Das pessoas que não amo, não das que eu odeio ou desgosto. Não um 'não amo' de não amar mesmo, com intensidade. Bem mais descansado. Sou eu olhando de beira de estrada pra beleza de árvore caída. 

Voltemos a ela, então. 

Ela fica quieta bastante tempo, fala quando falam com ela. Pessoas chatas essas que fazem assim, mas essa chatice dela até que se releva. Alguém pode pensar que esse "deixe estar" é um estratagema de quem não quer vê-la aos papos com meio mundo, não é, mas pode até ser. E ela também é confusa quando fala, complicada toda ela: afirma algo, volta e diz o contrário. Complicada, toda ela. 

Mas até que fala, e quando fala, pergunta questão que perturba. Esperta toda ela, lança um fato, eu, néscio que sou, nego, ela tem o que quer em mãos. Fez-me uma vez a mesma coisa, peguei-a no ato — esperto todo eu. Burro, mas burro experiente. Não é pouca merda, não. 

E nessa de dizer o que não é, me descreve como aquilo que finjo que não sou. A máscara funciona bem, obrigado — ou pelo menos me parece, vai ver que nem engana ninguém e não é como penso: que ela vê por debaixo da tal máscara, sem esforço que se veja. 

E, de tudo isso, tiro o quê que preste mais que tantas horas? Billy Corgan que me empreste seus versos: what have you got when you feel the same? Mais do mesmo, mesmo que seja algo aprazível, fica sendo menos aprazível só por ser repetido. Mas que Billy Corgan me empreste o nome de sua música, pensamento me diz que a moça deste texto se parece: bala com asas de borboleta. 

Vai perder velocidade, vai cair, vai ferir, sangue, ossos, dor, cicatrização. Mas vem com asas de borboleta. Tão bonito. Beleza de relógio parado quando acerta a hora, da árvore lá de cima, morta, arrancada. Beleza da bala. Beleza dela, ela, toda bela.

Nenhum comentário: