Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Clube da Luta: Black Mage e Tyler Durden

- Muito bem, Black Mage. Fazenda, animais, viagens... [arma na nuca de b.m., puxando o cabelo por debaixo do chapéu] Diz-me, o que quer da vida, o que vai ser? 

[Silêncio.] 

- Eu... não sei... 

- Como não sabe? E se morresse amanhã? Teria valido a pena? 

- Anh... eu acho que sim... 

[Tyler afrouxa a mão no cabelo. Não era uma resposta que esperava. Ele diz:] 

- Como assim? 

- Bem... eu consegui depois de três anos fritar um ovo hoje, e fiz uma viagem bastante... anh.. animada... 

- Animada? 

- Três quedas de airship, monstros, guerras. 

- E por que isso é interessante? 

- Algumas pessoas que gosto me acompanharam. 

[Tyler Durden pensa. Tyler Durden percebe que a arma escapou de sua mão, flutua no ar e cai a cinco metros de si. Dois segundos depois, a mão do mago Black Mage exibe uma luz vermelha.] 

- Incinero seus miolos se respirar mais forte. 

- Aham. 

- Diz! O que quer ser da vida? O que vai ser? 

- ... 

- Diga! 

- ... ora, não faz diferença... 

- Quem você é? 

[Tyler Durden não pode responder. Ele sabia que devia fazer as coisas com ardor, sabia que devia viver. Mas por um momento esqueceu os motivos, e nunca mais os tornou a ver.]

Um comentário:

Duanne Ribeiro disse...

Black Mage no caso sou eu, que era o apelido que eu usava nas salas de bate-papo de RPG. Black Mage é um tipo de personagem da série "Final Fantasy", eu me inspirava em particular em "Final Fantasy IX" e em Vivi Orinitia. Nessa época eu me sentia um tanto bobo e reduzi o codinome para "b.m.", que seguiu sendo o nome de autor até o fim do blog, pelo que me lembro.

Assim sendo, sou eu contra Tyler Durden, de "Clube da Luta", filme que o Rafael Henrique, do Devaneios Gratuitos, me enviou de Itabira, porque achava fundamental que eu visse. Esse texto reelabora uma cena importante do filme, em que Tyler tortura psicologicamente uma pessoa até que ela assuma sua liberdade. A ameaça de morte esclarece a vontade de vida.

Na minha reelaboração, fazer valer a vida pode ser realizado por algo prosaico — aprender a fritar um ovo ou estar com gente que gosta. É um ataque à grandiloquência, à pretensão de intensidade de "Clube da Luta". A reviravolta no final põe o herói original nas cordas e lhe pergunta: e por que a grandiloquência, e por que a intensidade? E é como se Tyler visse que não há fundamento, não há "eu", ele é só grandiloquência e intensidade sozinhas.