Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

sábado, 17 de agosto de 2013

Bom dia, Humanidade

um ensaio sobre um ensaio de Exterminador do Futuro III

O brilho das derradeiras bombas atômicas caindo do céu remete minha memória ao olhar cansado de cem dezenas de milhares, estes que julgam sem trabalhar e trabalham sem julgar, seguindo, assim, em um nível maior, a estratégia de outros cem, cem mil humanos, irrevogalmente humanos.

E olhe, veja só - observe como a Natureza trabalha em sua infinita paciência. Os pássaros e suas melodias, as flores e sua cor apaixonante, a felicidade e sua vinda tardia, a tristeza e sua existência maçante. Tudo o que ela construiu, com esmero e dedicação. Deve ter arquitetado por tanto, tanto tempo. Planejado como as coisas cresceriam, como as coisas correriam, quais coisas seriam coisas e quais coisas não seriam.

E ela criou os seres com maior liberdade; de todo o resto, esses seriam os que teriam a chance de mandar em mais do que pudessem comer ou com o que fornicar em dias ensolarados e escolhidos para procriação. Sorriu com seus lábios etéreos e disse:

"Bom dia, humanidade".

Então, provamos que éramos superiores. Em mil anos, destruímos mais do que ela criou em um milhão. Observamos suas lágrimas (?) e não vimos mais do que uma razão para continuar. Criamos as máquinas, e elas ocuparam o lugar das flores e dos pássaros e da felicidade e da tristeza.

Tomaram nosso lugar também, controlaram nossos meios de controle também, e lançaram as bombas. Enquanto a última bomba caía eu pude lembrar. No momento em que as máquinas iniciavam uma reconstrução.

2 comentários:

Duanne Ribeiro disse...

"Humanos, irrevogalmente humanos" é tributário de Nietzsche, né? Não sei se já tinha lido "O Anticristo", em edição vagabunda, nessa época, acho que não. De todo modo parece que ouvi a frase famosa: "Humano, demasiado humano". A variação é interessante. No filósofo, somos humanos demais. Na minha, somos justamente humanos — não mais, nem menos — e sem alternativa de mudança. Até que nos destruamos todos, por fim.

Duanne Ribeiro disse...

A imagem das bombas caindo — ela me remete a "The Suburbs", do Arcade Fire: "But by the time the first bombs fell, we were already, already bored". Essa música é também um estudo sobre a juventude. A mesma essência percorre o meu conto?